Secretário destaca importância dos Jogos Mundiais Indígenas para planejamento das Olimpíadas
Karkaju Pataxó: falar em esporte de alto rendimento nas aldeias, sem amparar o competidor indígena, é deslea
O Secretário de Esporte e Inclusão Social do Ministério do Esporte, Evandro Garla Pereira da Silva, destacou nesta quarta-feira (19) a importância dos primeiros Jogos Mundiais dos Povos Indígenas para o planejamento dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016. Ele participou de reunião da Comissão do Esporte que discutiu o assunto e informou que o ministério vai destinar R$ 10 milhões ao desporto indígena neste ano.
O mundial indígena será realizado do dia 23 de outubro ao 1 novembro em Palmas (TO). Os jogos vão reunir 22 etnias nacionais e povos de 27 países, como os Estados Unidos, Argentina e Finlândia. Dentre as modalidades indígenas, estão tiro com arco e flecha, arremesso de lança, cabo de força, canoagem e corrida de velocidade rústica, e xikunahati - jogo semelhante ao futebol que permite o uso da cabeça
Oficinas temáticas
A organização do evento é articulada pela Casa Civil desde junho e envolve todos os ministérios. A ideia é testar na sede dos jogos indígenas as estruturas usadas pela organização das Olimpíadas do Rio. Um exemplo disso são as oficinas temáticas, que hoje funcionam no Rio e em Palmas, e atuam na construção de planos de segurança.
“O legado que hoje pretendemos ter após os jogos mundiais é que os indígenas tenham o direito de praticar esporte e lazer, que hoje infelizmente isso não acontece”, ressaltou Evandro Garla.
O presidente da comissão do Esporte da Câmara dos Deputados, deputado Márcio Marinho (PRB-BA), acredita que o ‘atleta’ indígena requer especial atenção do poder público. "Inserir os indígenas nos esporte nacional exige política de alimentação, porque uma boa performance no esporte, sem alimentação, fica difícil”, disse. Marinho informou ainda que a comissão discute formas de levar aos indígenas os equipamentos para que eles possam “treinar e ser melhor do que são".
Esporte e a cultura indígena estão interligados, acredita Karkaju da etnia Pataxó da Bahia, coordenador da 8ª edição dos Jogos Pataxó. "O desafio é não deixar se tornar esporte apenas por esporte. Agente precisa ter consciência de que essas práticas têm um cunho cultural muito forte, e não podem perder de forma alguma esse vínculo cultural. Ele não pode passar a ser simplesmente uma competição”, defendeu.
Durante a reunião, o secretário do Ministério do Esporte disse que a Secretaria de Direitos Humanos (SDH) firmou termo de cooperação com o município de Palmas para combater a prostituição infantil de indígenas durante os jogos.
Alto rendimento
O secretário Evandro Garla não descartou a possibilidade de o 'atleta' indígena alcançar o nível de alto rendimento. Ele explicou, no entanto, que essa qualificação depende da avaliação do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e das federações, que foram convidadas para participar como observadores dos jogos indígenas. "É uma grande vitrine para os atletas", assinalou.
Já para Karkaju Pataxó, falar em esporte de alto rendimento nas aldeias, sem amparar o competidor indígena, é "desleal". "Na minha aldeia nós perdemos dois atletas que tinham condições de competir em alto rendimento, mas não tinham condições financeiras para se manter na prática de vela." Sem patrocínio, relatou, esses 'ex-atletas´ treinam em aparelhos defasados e acabam transformando uma potencial profissão em hobby.
Agência Câmara Notícias